Job 30 BPT09D

Dúvidas sobre o presente

1 «Mas agora riem-se de mim,até alguns mais novos do que eu.Os seus pais dantes seriam indignosde ficar com os cães do meu rebanho!

2 Que me interessa a força que eles têm?Já perderam todo o vigor.

3 Estavam esgotados por fomes e privações,obrigados a roer o que havia pelas estepes,

4 apanhando malvas nos matagaise raízes secas para comerem.

5 Os habitantes das povoações expulsam-nos,gritando contra eles como se fossem ladrões.

6 Têm de ir viver nas encostas perigosas,em buracos na terra e nos rochedos.

7 Ouvem-se rugir entre os matagais,aninhados debaixo dos arbustos.

8 São uma multidão de insensatos, gente sem nome,expulsos do país à bordoada.

9 Zombam de mim nas suas canções,para eles não sou mais que uma anedota.

10 Têm-me horror e afastam-se de mime não param de me cuspir na cara.

11 Eles espiam à minha porta e humilham-me,na minha presença faltam-me ao respeito.

12 Levantam-se contra mim de todos os ladose desenfreados correm para mim,trazendo consigo a desgraça.

13 Barram-me o caminho e fazem-me cair;não consigo escapar-me deles.

14 Passam através de uma enorme brechae vêm ter comigo entre os escombros.

15 O terror cai sobre mime, como um vendaval, ameaça a minha prosperidade;o meu bem-estar desapareceu como uma nuvem.

16 Agora só me resta dar largas aos meus queixumes:Estou a viver dias de aflição.

17 De noite, a dor trespassa-me os ossos,os que me roem não conhecem descanso.

18 Ele agarra-me com violência pela roupae segura-me pelo colarinho da camisa.

19 Atira comigo para a lamae fico misturado com o barro e o pó.

20 Gritei por ti e não me respondeste,apresentei-me e não fizeste caso de mim.

21 Tornaste-te o meu carrascoe atacaste-me com a tua mão pesada.

22 Fizeste com que eu fosse levado pelo ventoe afastaste o sucesso para longe de mim.

23 Bem sei que me farás regressar à morte,morada onde todos os seres se vão encontrar.

24 Não é quando tudo está perdidoque se vai estender a mão a alguém,nem depois do desastre que se grita por socorro.

25 Não será verdade que chorei com o oprimido?Não me entristeci por causa dos pobres?

26 Ansiei pelo bem e veio-me o mal,esperei pela luz e veio a escuridão.

27 Ardo em febre que não baixa,dias de aflição aproximam-se de mim.

28 Caminho sombrio e sem Sol;e vou à assembleia do povo pedir auxílio.

29 Tornei-me companheiro dos chacais,fui viver com as avestruzes no deserto.

30 A minha pele está mais negra que um caldeirão,os meus ossos ardem em febre.

31 A minha lira está de lutoe a minha flauta só acompanha quem chora.»

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