8 Os vizinhos viram o que eu estava a fazer e riram-se de mim, dizendo: «Ele não tem medo de ser condenado à morte por fazer isto; já teve que fugir uma vez, mas continua a enterrar os mortos.»
9 Naquela noite tomei um banho e fui dormir no pátio interior da minha casa. Deitei-me perto do muro e por causa do calor não cobri a cabeça com o cobertor.
10 Eu não sabia que em cima do muro havia alguns passarinhos; durante a noite as suas fezes ainda quentes caíram-me nos olhos, formando umas manchas brancas. Fui aos médicos, esperando ser curado; porém, quanto mais eles punham remédios nos meus olhos, mais eles pioravam, até que fiquei completamente cego. Passei quatro anos sem poder ver nada, e todos os meus irmãos tinham pena de mim. Durante dois anos Aicar tomou conta de mim, até partir para o país de Elimaida.
11 Depois que Aicar se foi embora, Ana, minha mulher, começou a ganhar dinheiro fazendo tecidos. Esse é um trabalho que as mulheres geralmente fazem.
12 Ela levava o tecido aos patrões e estes pagavam-lhe pelo serviço. No dia sete do mês de Adar, ela terminou de fazer uma peça de tecido e a entregou aos patrões. Eles pagaram-lhe pelo serviço e também lhe deram de presente um cabrito.
13 Quando ela chegou a casa, o cabrito começou a balir. Eu perguntei logo: «De onde veio esse cabrito? Não me digas que roubaste esse animal! Se o roubaste, leva-o de volta aos donos. Não temos o direito de comer qualquer coisa que tenha sido roubada.»
14 Ela respondeu: «É que, além de me pagarem, ainda me ofereceram este cabrito.» Eu não quis acreditar e insisti com ela para que devolvesse o cabrito aos patrões, envergonhado com o seu procedimento. Mas Ana disse: «Onde estão as esmolas que dás? Onde estão as obras de caridade que fazes? Agora a gente fica a saber quem tu realmente és.»