1 Macabeus 10 BPT09D

Jónatas torna-se sumo sacerdote

1 No ano cento e sessenta da era grega, Alexandre Epifânio, filho de Antíoco, foi e tomou a cidade de Ptolemaida, onde foi bem recebido e investido como rei.

2 Quando o rei Demétrio o soube, organizou um enorme exército e marchou para o enfrentar em combate.

3 E Demétrio enviou a Jónatas uma carta cheia de palavras de amizade e de elogios.

4 Pois dizia ele: «Apressemo-nos a fazer paz com Jónatas antes que ele a faça com Alexandre, contra nós.

5 Pois irá lembrar-se de todos os males que lhe causámos, aos seus irmãos e ao seu povo.»

6 E deu-lhe autoridade para formar exércitos, armá-los e tornar-se seu aliado; ordenou também que os reféns que estavam na cidadela do templo lhe fossem entregues.

7 Então Jónatas foi a Jerusalém e leu a carta perante todo o povo e para os soldados que estavam na cidadela.

8 Estes ficaram com muito medo quando ouviram dizer que o rei tinha dado a Jónatas autorização para organizar um exército,

9 e entregaram os reféns a Jónatas, que os mandou de volta para os seus pais.

10 Jónatas passou a viver em Jerusalém e recomeçou a construir e a restaurar a cidade.

11 Deu ordem aos encarregados das obras para construírem muralhas e uma fortificação ao redor do monte Sião com pedras trabalhadas; e assim foi feito.

12 Os soldados estrangeiros que estavam nas fortalezas que Báquides tinha construído fugiram;

13 cada um abandonou o seu posto e voltou para a sua própria terra.

14 Só em Bet-Sur é que ficaram alguns dos judeus que tinham abandonado a lei, pois era o seu lugar de refúgio.

15 O rei Alexandre ouviu falar das promessas que Demétrio fizera a Jónatas, e contaram-lhe também das batalhas em que Jónatas e os seus tinham lutado, dos seus atos de coragem e das situações difíceis por que tinham passado.

16 Então o rei disse: «Onde é que vamos encontrar um homem igual a este? Vamos fazer com que se torne nosso amigo e aliado!»

17 Então escreveu-lhe uma carta nos seguintes termos:

18 «O rei Alexandre envia saudações ao seu irmão Jónatas.

19 Ouvimos dizer que és um homem corajoso e valente e que mereces a honra de ser nosso amigo.

20 Portanto, hoje pomos-te como sumo sacerdote do teu povo e damos-te o título de Amigo do Rei. Defenderás os nossos interesses e serás sempre nosso amigo.» E Alexandre enviou a Jónatas um manto de púrpura e uma coroa de ouro.

21 No sétimo mês do ano cento e sessenta da era grega, durante a festa das Tendas, Jónatas vestiu o manto sacerdotal. Organizou um exército e mandou fazer uma enorme quantidade de armas.

A carta de Demétrio

22 Quando Demétrio soube de tudo isso, ficou contrariado e disse:

23 «Como é que fomos deixar que Alexandre conseguisse a amizade e o apoio dos judeus?

24 Eu também vou escrever-lhes uma carta de amizade e prometer-lhes homenagens e presentes, a fim de conseguir a sua ajuda.»

25 E Demétrio escreveu-lhes a seguinte carta: «O rei Demétrio envia saudações à nação dos judeus.

26 Fomos informados e regozijamo-nos pelo facto de que têm respeitado as vossas alianças connosco, que ainda são nossos amigos e que não se juntaram aos nossos inimigos.

27 Continuem pois a ser-nos fiéis, e pagar-vos-emos pelo que fizerem em nosso favor.

28 Então vamos isentar-vos de muitos impostos, e dar-vos presentes.

29 De agora em diante eu vos liberto e isento a todos os judeus dos impostos de renda, da taxa do sal e dos impostos especiais devidos ao rei.

30 Também deixo de cobrar aquilo que por direito é meu, um terço das colheitas de cereais e metade da colheita de fruta. A partir de agora, nada mais cobrarei aos moradores da terra de Judá e dos três distritos da Samaria e da Galileia, que lhes estão anexos. Isto será válido desde agora e para sempre.

31 Jerusalém será considerada santa e isenta bem como o seu território, os dízimos e as taxas.

32 Desisto também da minha autoridade sobre a cidadela de Jerusalém e entrego-a ao sumo sacerdote, o qual colocará ali os homens que ele escolher para a defender.

33 Declaro livres, sem qualquer custo, todos os judeus que foram levados como prisioneiros da terra de Judá para qualquer lugar do meu reino, e ainda os isento de quaisquer taxas, até mesmo sobre o seu gado.

34 Todas as festas, os sábados, as festas da lua nova, e os outros dias consagrados, assim como os três dias antes de cada festa e os três dias seguintes serão dias de imunidade e de isenção para todos os judeus que morarem no meu reino.

35 Ninguém terá o direito de lhes cobrar nada nem de os incomodar por qualquer motivo.

36 Trinta mil judeus, no máximo, serão convocados para servir no meu exército, aos quais serão atribuídos os honorários devidos aos soldados do rei.

37 Alguns deles serão colocados ao serviço nas grandes fortalezas reais e outros ocuparão cargos de confiança no reino. Os chefes e oficiais serão escolhidos dentre eles e viverão de acordo com as suas próprias leis, conforme o rei já prescrevera para a terra de Judá.

38 Os três distritos do país de Samaria que foram anexados à Judeia passarão a fazer parte da mesma, de modo que se consideram como uma região única e como não estando debaixo de nenhuma autoridade, a não ser do sumo sacerdote.

39 Dou a cidade de Ptolemaida e o território à sua volta ao santuário de Jerusalém para custeio das despesas do santuário.

40 Darei também todos os anos cento e setenta quilos de prata, que serão tirados das contas do rei, dos lugares que são propriedade sua.

41 E os excedentes que não têm sido pagos pelos meus funcionários, como o eram nos primeiros anos, serão desde agora entregues para as despesas do templo.

42 Além disso, os sessenta quilos de prata que todos os anos eram tirados do orçamento do santuário serão cancelados, pois esse dinheiro é propriedade dos sacerdotes que ali servem.

43 E quem procurar refúgio no templo, ou em toda a sua área circundante, por dívidas ao rei ou por qualquer outro motivo, será ilibado e não será privado de nada do que lhe pertence no meu reino.

44 As despesas dos trabalhos de reconstrução e restauração do santuário serão pagas à conta do rei.

45 Também serão por conta do orçamento real as despesas da reconstrução das muralhas de Jerusalém e das fortificações que estão a ser construídas ao seu redor, tal como a reconstrução de muralhas na Judeia.»

A morte do rei Demétrio

46 Quando Jónatas e o povo ouviram estas palavras não acreditaram nelas, nem sequer as consideraram pois ainda se lembravam do terrível mal que ele lhes fizera e como os havia oprimido.

47 Preferiram ficar a favor de Alexandre, porque ele tinha sido o primeiro a fazer-lhes uma proposta de paz, e foram seus aliados todos os dias da sua vida.

48 Nisto o rei Alexandre reuniu um exército enorme e marchou contra Demétrio.

49 Travou-se a batalha entre os dois reis e os soldados de Demétrio fugiram; Alexandre perseguiu-os e derrotou-os.

50 Prosseguiu ferozmente a sua ofensiva até ao pôr do sol e nesse mesmo dia Demétrio caiu morto.

Alexandre torna-se aliado do rei Ptolomeu

51 Alexandre enviou mensageiros ao rei Ptolomeu do Egito, com a seguinte mensagem:

52 «Voltei ao meu reino, sentei-me no trono dos meus antepassados e comecei a reinar; derrotei Demétrio e assumi o poder sobre o nosso país;

53 envolvi-me em conflito, lutei contra ele. Venci-o a ele e ao seu exército e sentei-me no seu trono.

54 Estabeleçamos pois laços de amizade; dá-me a tua filha para ser minha esposa, e eu serei teu genro. E dar-te-ei presentes a ti e a ela, como merecem.»

55 O rei Ptolomeu mandou a seguinte resposta: «Foi um dia feliz aquele em que voltaste para a terra dos teus antepassados e te sentaste no trono do seu reino.

56 Vou fazer agora o que disseste. Mas vamos encontrar-nos em Ptolemaida para nos conhecermos pessoalmente. E, como pediste, serei teu sogro.»

57 No ano cento e sessenta e dois da era grega, Ptolomeu saiu do Egito com sua filha Cleópatra e foi até Ptolemaida.

58 Ali encontrou-se com o rei Alexandre e deu-lhe a filha Cleópatra como esposa. Fez uma grande e magnífica festa de casamento, como é uso entre reis.

Jónatas torna-se aliado de Alexandre

59 O rei Alexandre escreveu uma carta a Jónatas, convidando-o para um encontro.

60 Este dirigiu-se a Ptolemaida com muita pompa para se encontrar com ambos os reis. Deu-lhes prata, ouro e muitos outros presentes, assim como aos amigos, conquistando a sua simpatia.

61 Chegaram de Israel alguns indivíduos que se tinham afastado da lei e eram a peste de Israel, fazendo acusações contra Jónatas; mas o rei Alexandre não deu lhes a menor atenção.

62 O rei ordenou que tirassem as roupas de Jónatas e que o vestissem com trajes de púrpura; e assim aconteceu.

63 Fê-lo sentar-se ao seu lado e deu a seguinte ordem aos seus oficiais: «Levem Jónatas até ao centro da cidade e ali anunciem ao povo que ninguém poderá acusá-lo de nada nem o incomodar por qualquer razão.»

64 E os que tinham vindo para acusar Jónatas, quando viram a glória que lhe era dada, como fora anunciado, e o viram revestido de púrpura, fugiram todos.

65 E o rei honrou-o também inscrevendo-o na lista dos Primeiros Amigos do Rei, e deu-lhe o cargo de governador militar e civil da província.

66 E Jónatas voltou para Jerusalém, em paz e muito feliz.

Jónatas derrota Apolónio

67 No ano cento e sessenta e cinco da era grega, Demétrio Nicanor, filho de Demétrio Sóter, partiu da ilha de Creta e foi para a terra dos seus antepassados.

68 Quando o rei Alexandre ouviu essa notícia, ficou muito contrariado e regressou para Antioquia.

69 Demétrio designou Apolónio, o governador da Celessíria, para ser o comandante do seu exército. Este juntou um grande exército e acampou em frente da cidade de Jâmnia. Então escreveu ao sumo sacerdote Jónatas a seguinte carta:

70 «És o único que não aceita a nossa autoridade. Por causa de ti tornei-me motivo de escárnio e objeto de insultos. Por que é que mostras a tua autoridade contra nós aí nas montanhas?

71 Se confias tanto assim no teu exército, desce daí e encontra-te connosco na planície; ali nos enfrentaremos um ao outro. Comigo estão as forças militares das cidades.

72 Pergunta e ficarás a saber quem sou eu e quem são os meus aliados. Eles te dirão que não tens condições para resistir à nossa presença. Os teus antepassados foram derrotados duas vezes na sua própria terra.

73 Hoje, na planície, não poderás enfrentar a minha cavalaria e um exército tão forte como o meu, pois aí não há pedras nem rochedos nem lugar algum para onde possas fugir.»

74 Quando Jónatas ouviu as palavras de Apolónio, ficou com o espírito agitado. Escolheu dez mil soldados e partiu com eles de Jerusalém. Seu irmão Simão encontrou-se com ele para o ajudar.

75 Acamparam em frente de Jope, mas os seus moradores fecharam os portões da cidade, pois ali havia uma guarnição de soldados de Apolónio. E o ataque começou.

76 Os moradores da cidade ficaram com medo e abriram os portões. Assim Jónatas tomou Jope.

77 Quando Apolónio ouviu esta notícia, equipou três mil soldados de cavalaria e um exército enorme e marchou na direção da cidade de Asdod, fingindo que estava a atravessar a região. Ao mesmo tempo avançou pela planície, pois possuía uma numerosa cavalaria e confiava nela.

78 Jónatas perseguiu Apolónio até Asdod, onde os dois exércitos começaram a lutar.

79 Apolónio deixou mil cavaleiros escondidos atrás deles.

80 Jónatas percebeu que tinha caído numa armadilha. Os inimigos cercaram-no e alvejaram o povo com lanças, desde manhã até à tarde.

81 Mas o povo ficou firme, conforme as ordens que lhe dera Jónatas, e a cavalaria dos inimigos acabou por se cansar.

82 Nisto Simão avançou com as suas forças, atacou a falange e, com a cavalaria dos inimigos já fora de combate, estes foram destroçados e acabaram por fugir.

83 Os soldados da cavalaria dispersaram-se pela planície, fugiram para Asdod e entraram em Bet-Dagon, templo do seu ídolo, procurando salvar-se.

84 Mas Jónatas incendiou Asdod com os povoados à volta e saqueou todos os seus objetos de valor. Incendiou também o templo de Dagon, juntamente com os que ali estavam.

85 Ao todo, o número dos que morreram à espada e no incêndio foi de oito mil homens.

86 Jónatas marchou dali e acampou em frente de Ascalon. Os moradores da cidade saíram ao seu encontro com grande pompa.

87 Depois Jónatas regressou a Jerusalém com enorme quantidade de despojos.

88 O rei Alexandre ouviu a notícia de tudo isto e prestou ainda maiores honras a Jónatas.

89 Enviou-lhe uma fivela de ouro, daquelas que habitualmente eram dadas aos Familiares do Rei e entregou-lhe também a cidade de Ecron e todos os territórios que lhe pertencem.

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